25/04/2012

A PASSAGEM DA CRUZ DA JMJ VISTA COM O OLHAR DE UM ITALIANO

 Pe. Mauro Rivella, sacerdote italiano da Diocese de Turim, acompanhou o nosso Bispo em todas as etapas da Visita das Cruz da JMJ na Diocese de Zé Doca. Ele preparou uma reportagem para o jornal italiano Avvenire e para o site internet italiano da JMJ (www.gmgrio2013.it). Propomos, a seguir, a tradução em língua portuguesa.


Sexta-feira, às 08,00 horas: encontro marcado na Br-316, na ponte do Rio Pindaré, no limite com a Diocese de Viana. Começa aqui a peregrinação da Cruz da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na Diocese de Zé Doca, noroeste do Estado do Maranhão, na região Nordeste. Tudo aqui é imenso: o Maranhão tem uma área maior do que a Itália, mas com menos de 6.500.000 de habitantes. A Igreja é uma presença viva numa área com muitos problemas: o Maranhão é, entre os 27 Estados da Federação, aquele que tem menor rédito médio per-cápita.
O programa prevê que a peregrinação da Cruz, na Diocese, se estenda por três dias. O bispo Carlo Ellena, Fidei Donum de Turim desde quase 40 anos nestas terras, escolheu, junto com os seus padres, de levar a Cruz em todas as 16 paróquias da Diocese: uma área geográfica maior do que Piemonte, Val de Aosta e Ligúria juntas, onde moram, porém, menos de 350.000 pessoas. Os católicos são 300.000, mais ou menos, embora tenha o proselitismo capilar e premente das seitas evangélicas.
Jovens, adolescentes e meninos, chegados de qualquer forma e com qualquer meio, acolhem a Cruz, transportada sobre um caminhão, junto com o Ícone da Virgem Maria, em uma explosão de cantos, fogos  inclusive de artifício. Interrompe-se o trânsito da importante estrada Br-316, São Luís-Belém. Carretas, ônibus e carros aguardam com muita paciência: todos únem-se com entusiasmo. É apenas o início de uma festa do povo, que durará ininterrupta durante três dias e três noites. Toda vez que a Cruz chegará numa paróquia, encontrará uma grande quantidade de jovens para a acolher no ingresso da cidade, sem problema se for madrugada, debaixo do sol escaldante, no desabar de um chuva ou no coração da noite. Ao longo da estrada, os povoados enfeitam a própria capela com flores e faixas: o povo se apinha para assistir, embora por poucos minutos, ao passar da carreata formada por motos, carros, caminhões e ônibus que acompanham a Cruz. Perante tanta espera não é possível não parar, para partilhar ao menos um canto e uma oração.
A primeira etapa da peregrinação é uma aldeia de Índios, bem na beira da Br-316: eles nos acolhem orgulhosos nos trajes tradicionais deles, entoando cantos e acompanhando-os com danças. O bispo os cumprimenta com afetuosidade, explica o sentido da peregrinação e reza com eles. Chegamos, assim, à primeira paróquia, onde a Cruz ficará durante duas horas. Cada paróquia tem liberdade de organizar o tempo que lhe é reservado: algumas comunidades celebram a S. Missa, outras rezam o Ofício da Juventude ou o Terço. Na maioria das vezes a Cruz é levada em procissão pelas ruas da cidade. Nunca falta a palavra do bispo. Impressiona sempre a participação do povo pelo número e pela qualidade: os jovem levam em procissão a Cruz e o Ícone, tirando os cantos, mas todos, meninos, adultos e idosos, tomam parte do evento, que se torna ocasião de oração e de fé para a comunidade toda. Quem consegue, aproxima-se da Cruz para beijá-la. Cada um gostaria ter uma foto como recordação.
Chegando em todas as paróquias, a peregrinação nos facilita o conhecimento de uma Diocese do Nordeste. Zé Doca tem duas realidades: a primeira é constituída por cidades (a maior é de 50.000 habitantes) e povoados que se formaram ao construir a Br-316: aqui, 50 anos atrás, só havia floresta. A população é formada pela maior parte de imigrados de outros Estados do Nordeste que chegaram com a esperança de encontrar um pouco de terra para trabalhar. A segunda realidade é constituída pelas cidades que se encontram no litoral: estes são grupos mais estáveis, principalmente dedicados à agricultura e à pesca. Não há indústrias, somente há um pouco de comércio e trabalhos artesanais. Televisão e internet chegam em todos os cantos. Cada jovem tem no bolso o telefone celular. Também nos vilarejos afastados, aonde chega a energia elétrica, entre as casas de taipa o de palha aparece uma antena parabólica.
A Zé Doca nos espera o momento central da peregrinação: a ordenação diaconal de três seminaristas. Á liturgia na catedral segue um cocktail oferecido a todos. A festa prossegue com um espetáculo de cantos, que continua até às 02,00 horas da madrugada. Depois novamente em caminhada, pois nos está esperando a comunidade de Araguanã. Aqui a Cruz ficará até às 07,00 horas. Ás 06,00 horas o bispo celebra a S. Missa inaugurando a nova igreja: por enquanto há apenas os muros, o telhado e as janelas. O que falta virá com o passar do tempo.
O sábado é um verdadeiro empenho de boa vontade e de força de animo: em 24 horas passamos em 7 paróquias. Faltarão ainda 6 para o domingo. Quando a Cruz chega em Maracaçumé, já é uma hora de madrugada. Tudo acontece e se desenrola na praça da cidade: na espera da Missa, que acontecerá às 06,00 horas da manhã, os jovens cantam e rezam perante a Cruz. Carutapera, no litoral, é a etapa conclusiva desta experiência única. A Cruz entra na igreja paroquial às 02,00 horas da madrugada do domingo: depois da oração e da saudação do bispo, a festa dos jovens continua na praça. Quando, às 05,00 horas da manhã, entoa-se o último canto, sobre o inevitável  cansaço prevalece a consciência de ter participado a um evento de graça: a Cruz de Cristo é verdadeiramente o grão de trigo que cai na terra e morrendo dá vida. A Diocese de Zé Doca tem certeza que esta semeadura generosa trará frutos abundantes. Ela viveu uma experiência extraordinária, mas não fechada em si mesma: a participação coral, o entusiasmo e a oração nos confirmam na certeza que o bem é mais forte do que o mal e que existem razões fundamentadas para esperar nos jovens e na capacidade deles de construir um mundo melhor.
Segunda-feira, às 06,00 horas: a Cruz é colocada novamente no caminhão.  A carreata se move rápida. Precisamos chegar à Diocese de Pinheiro, próxima etapa da sua peregrinação brasileira em vista da Jornada do Rio de Janeiro. Às 09,00 horas estamos em Turilândia para a entrega ao bispo de Pinheiro. Ainda um momento de oração entre cantos e manifestações de alegria de quem está para viver o que para nós já é entregue à memória.
Bento XVI espera a todos no Rio de Janeiro!
 
Fonte:  http://jmjdiocesezd.blogspot.com.br/2012/04/pe.html às